O ALEIJADINHO ATRAVÉS DOS TEMPOS
Por Luiz Gonzaga Rocha
As biografias e memórias do Mestre Antônio Francisco Lisboa – O Aleijadinho das esculturas em madeira e pedra sabão das Minas Gerais – embora densa e soberba, ainda estão a merecer estudos e considerações outras para mais além do âmbito específico dos estudos e análises à ele e à sua arte dedicados na literatura nacional e internacional. O Aleijadinho e a escultura barroca no Brasil, como assevera Germain Bazin, sobrevive através dos tempos e se imortaliza em sua arte genial.
O desafio cognitivo para se aventurar em conhecer e revelar aspectos personalíssimos da arte e vida do Mestre Aleijadinho não encontra (e nem poderia encontrar) benevolência no tradicional relato de Ferreira Brêtas (o seu primeiro e maior biógrafo), por melhor que possa ser. E o afirmo plenamente consciente do que sinto, pois, para meu especial deleite intelectual, quando já imaginava conhecer bem a biografia (e bibliografia) existente sobre Aleijadinho e sua arte, esbarro, meio por acaso, com o livro “Esculturas de Antônio Francisco Lisboa – O Aleijadinho”, do escritor e fotógrafo argentino Horácio Coppola, obra essa que reúne além de breve histórico, oitenta e uma fotografias das obras atribuídas ao toreuta mineiro. As fotografias do autor foram recentemente expostas no Brasil, com o título de “Exposição: Luz, cedro e pedras – esculturas do Aleijadinho”. Grata surpresa encontrar o livro desse autor? Sim. A surpresa foi o grande incentivo para a escrituração deste texto.
Da vasta bibliografia existente sobre o Mestre Antônio Francisco Lisboa – O Aleijadinho – coleciono algumas obras, e destas, dou especial destaque neste texto ao “Cristo de Lama”; “E Eles verão a Deus… O drama do Aleijadinho”; “Aleijadinho – o rito do tempo”; e “Antônio Francisco Lisboa”, de autoria de João Felício dos Santos, Hernâni Donato, Kurt Pahlen, e José Mariano Filho, respectivamente. Os três primeiros merecem destaques por serem as únicas obras romanceadas de que tenho conhecimento, e por retratarem aspectos desconhecidos sobre a infância, juventude, vida adulta, talento, humores e aflições do homem Antônio Francisco Lisboa. A obra de José Mariano por ser anterior às demais, preenchem muitas lacunas obscuras e emprestam elementos que nos permite aquilatar as informações daqueles e de outros autores.
“Cristo de Lama – romance do Aleijadinho de Vila Rica” (1990), apresenta-nos Antônio Francisco Lisboa do nascimento à passagem para o Oriente Eterno. O mestre do romance histórico João Felício discorre, de forma romanceada, sobre a vida do Aleijadinho, com emoção, ternura e sensibilidade.
“Aleijadinho – o rio do tempo” (1975), romance do historiador e membro da Academia Paulista de Letras – Hernâni Donato, retrata a vida do Aleijadinho a partir da juventude, enveredando por estórias e aventuras do artista Manuel Lisboa, sem, contudo, descuidar dos aspectos relevantes da vida de Antônio Francisco Lisboa, e de seu possível envolvimento com figuras destacadas da Inconfidência Mineira.
“E Eles verão a Deus… O drama do Aleijadinho” (1958), do austríaco Kurt Pahlen, há o empenho em retratar O Aleijadinho em sua fase de vida adulta, apresentando com vivacidade os principais momentos da vida do artista, a exemplo do relato detalhado das suas desavenças com Romão, o ajudante-de-ordem do Governador Minas Gerais, Luís Menezes, e o incidente do Dia de Corpus Christis, em que a vingança do Aleijadinho se concretiza em forma de arte na imagem de S. Jorge. Pahlen não insiste, mas não deixa de apontar os indícios (fortes) do relacionamento do Aleijadinho com os Inconfidentes (registra, por exemplo, o momento em que a carta de Thomas Jefferson fora lida em reunião dos Inconfidentes) e não se omite ou não omite de assinalar a predisposição de adesão do Mestre Aleijadinho à causa do movimento mineiro.
No livro “Antônio Francisco Lisboa – O Aleijadinho 1738-1814”, de autoria de José Mariano Filho (1944), é apresentado um apanhado da vida do Aleijadinho, partindo da crítica (dirigida à Ferreira Brêtas) sobre a falsa biografia do Aleijadinho e o estado atual dos conhecimentos sobre o artista (1942-1944). Meticuloso e extremamente cuidadoso, analisa as obras do Aleijadinho uma a uma, enxergando nelas os traços (talhes) dos seus auxiliares; aponta as influências externas e reconstrói os legítimos traços do artesão, da arte mineira e da história da arte no Brasil, e principalmente, refaz parte significativa da biografia do toreuta mineiro, afastando os falsos relatos vigentes.
Apontados estes sucintos pontos , podemos retornar ao ponto de partida, pois iniciei dizendo que as biografias e memórias do Mestre Antônio Francisco Lisboa, embora densa e soberba estejam a merecer estudos e considerações outras para mais além dos estudos e análises apresentados ao longo desses 283 anos últimos (1738-2021) que nos separa do nascimento do Aleijadinho de Vila Rica. Não vou mais além (falta-me terra aos pés), mas quero apresentar um autor e obra que considero relevante aos fatos até aqui pouco considerados pela historiografia maçônica nacional. Quero me reportar ao historiador (jurista, jornalista e político) mineiro, Joaquim Felício dos Santos e ao seu livro “Memórias do districto diamantino da comarca do Serro Frio – província de Minas Geraes” (1868), convicto de que joias raras podem repousar nos seus escritos, vez que J. Felício dos Santos foi o primeiro escritor a contar a história de Xica da Silva, e o primeiro a indicar que a Inconfidência Mineira possuía as impressões digitais da maçonaria, apontando Tiradentes e os principais implicados no movimento como maçons.
Na sua obra, por certo, há relatos sobre o Mestre Antônio Francisco Lisboa – O Aleijadinho – patrono da nossa Augusta, Respeitável e Benfeitora Loja Maçônica, sediada neste Oriente de Brasília/Distrito Federal, à qual e aos seus Obreiros rendemos justa e perfeita homenagens.
E desde logo estou comprometido, e assim que o tempo amainar; a tempestade passar; e o Sol da liberdade brilhar esplendorosamente, estarei a caminho, como um Dom Quixote, em direção ao Gabinete Português de Leitura em Recife, para folhear e degustar as páginas históricas daquela obra no original, e o farei, mesmo tendo fácil acesso à obra de Joaquim Felício dos Santos, em versão digitalizada em meu banco de dados computadorizado. E isto não é promessa; ir ao Gabinete Português de Leitura folhear a versão original é compromisso.
Paz. Muita Paz.
(Brasília/DF, jun 24, 2021)
Obras referenciadas:
BAZIN. Germain, O Aleijadinho, 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1963.
COPPOLA, Horácio, Esculturas de Antônio Francisco Lisboa: O Aleijadinho, Buenos Aires: Ediciones de La Llanura, 1955.
DONATO, Hernâni, Aleijadinho – o rio do tempo, São Paulo: Círculo do Livro, 1975.
FILHO. José Mariano, Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho 1738-1814, Rio de Janeiro: 1944.
PAHLEN. Kurt, E Eles verão a Deus… O drama do Aleijadinho, São Paulo: Melhoramentos, 1958.
SANTOS. J. Felício dos, Memórias do districto diamantino da comarca do Serro Frio – província de Minas Geraes, Rio de Janeiro: Typ. Americana, 1868.
SANTOS. João Felício dos, Cristo de Lama – romance do Aleijadinho de Vila Rica, São Paulo: Círculo do Livro, 1990.
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