Por Luiz Gonzaga Rocha*

Com a publicação das suas “Exposures”, tudo o que o Maçom Samuel Prichard nunca poderia imaginar, seria que as vigas mestras da maçonaria se abalariam, e que seria considerado “perjúrio” e renegado da Ordem Maçônica, por escrever os rituais e por seu ineditismo em publicá-los, e, ainda, por conta das revelações que expôs em Masonry Dissected, seu livro, publicado em 1730, época em que a Maçonaria começava a ser descoberta pelo mundo, o que lhe custou muito caro. As vigas mestras se abalaram é verdade, mas a Sociedade dos Maçons e as suas estruturas não cederam, pois eram, até então, muito jovem, pode-se, por assim dizer, uma criança com os seus treze anos (contados a partir de 24/06/1717) de idade, e não ruiu. 

O panfleto Maçonaria Dissecada datado de 13 de setembro de 1730 (e publicado em 22/09/1730) expôs aos Iniciados e aos não-Iniciados na Arte Real os três graus iniciais, revelando detalhes de cada um deles, inclusive, escreveu e publicou o recém-criado grau de Mestre. O livro foi um sucesso de vendas e não só se explica em decorrência da curiosidade dos não-Iniciados sobre o que se fazia na Maçonaria, mas, igualmente, devido a curiosidade e o interesse dos próprios maçons, que passaram a utilizar o livro para ajudar- lhes a reter na memória os rituais, que na época eram proibidos a impressão, sendo necessário decorá-los, pretextos que servem para explicar e justificar as sucessivas edições da obra. Para que se tenha uma ideia do “boom de vendas”, somente nas duas primeiras semanas seguintes a publicação do livro, três edições sucessivas foram lançadas. 

Sobre as “Exposures” e o seu autor, escrevo, agora, dez anos antes que complete três séculos, para expor o entendimento de que não o tenho como renegado (e nunca o tive – nem o autor nem a obra) como perjuro e pugnar para que os maçons atuais, não os tenham e nem possam tê-los como Esquim de Florian*, Judas Iscariotes ou mesmo, na linguagem moderna, Traidor da Ordem. Em verdade, os tenho como “Construtores da Ordem” (aproveitando o título da obra de Joseph Fort Newton como mote), como verdadeiros “Caifazes” (aproveitando o título da obra de Jefferson Soares de Carvalho, também, como mote) da reordenação jurídica e constitutiva da Maçonaria Moderna. 

Graças a Samuel Prichard, a Maçonaria Moderna precisou se reinventar, substituir palavras de passes, sinais e toques, simbolos e códigos, fazendo valer os que estão presentes em nossos dias em detrimento das palavras e sinais anteriormente existentes (e com isto, alargando e aprofundando os conflitos já existentes entre os maçons antigos e modernos). O leitor instruído poderá pensar, mas se não fosse a divulgação das “exposures” de Samuel Prichard com todos os ramos maçônicos desde as ascentralidades até aos de 1730, ou seja, se não houvesse a divulgação das constituições regulares das lojas, da história e dos detalhes dos diversos graus de admissão, estes poderiam, igualmente, estarem preservados até esses nossos dias. É verdade. Reconheço. Têm razão. Entretanto, afirmo que eles estão preservados nas “Exposures” e entendo que o papel desempenhado por Samuel Prichard, assim como os papeis, ações e obras do Papa Clemente XIII (1738), do Abade Perau (1745, 1760 e 1762) e de tantos outros autores de obras tidas como antimaçônicas, a exemplo da obra do pernambucano Gustavo Barroso (História Secreta do Brasil – 1932), só puderam contribuir para propagar a Ordem Maçônica e permitir que ela criase mecanismos de auto-preservação. 

Sei muito bem às críticas a que me exponho, e as receberei de bom grado, venham de onde vierem, sejam bem-vindas, mas não me furtarei, nem renegarei os pensamentos que me ocorreram (e que os escrevo) neste momento em pretender celebrizar a célebre obra denominada “Maçonaria Dissecada”, a primeira obra a virar de cabeça para baixo a Ordem Maçônica, embora a intenção original não fosse esta, pois a obra (e assim se encontra registrado em suas primeiras páginas) foi dedicada, pelo autor, à nossa Muito Respeitável e Honorável Fraternidade, e aos Irmãos e seus companheiros, reconhecendo neles o seu caráter, difundido e estimado entre os remanescentes da parte polida da Humanidade; e pasmem, o autor se colocou com humildade e modéstia e submissão à Fraternidade. Ou seja, a obra era dedicada à sua Loja-Mãe e a seus Irmãos e companheiros de Loja, e acreditava e esperava (ele) estar contribuíndo com a Ordem, sendo por isso, assim quero crer, que assinou a dedicatória se colocando como o mais “Obediente e Humilde Servo”. Por certo que os tempos de hoje são outros, mas, guardadas as devidas proporções, quantos (e não são poucos, tenho certeza) dos nossos Irmãos escritores e articulistas maçônicos não revelaram, consciente ou inconscientemente, supostos segredos e supostas informações que só poderiam ser conhecidas dos Maçons e nos seus respectivos graus. Por certo, a história e as práticas maçônicas dos Maçons Especulativos seriam outra se não fosse Samuel Prichard, sendo certo, igualmente, que tenha em muito contribuido para a causa maçônica. E com este entendimento comungou o nosso Irmão Xico Trolha que na apresentação da obra por ele traduzida e publicada, assere: “Masonry Dissected – de Samuel Prichard – nos causou mais benefícios do que estragos”. E arrematou dizendo que mesmo a bula papalina “In Eminent” da Igreja Católica Romana, antiga Patroa e Tutora da Ordem, “nos fortaleceu, nos criou um círculo protetor, ao unir em torno de nós, todas as forças anticlericais existentes. Lideranças políticas, de dentro e fora do Clero, passaram a nos ver com outros olhos, e procurando nossas Organizações, para nelas, se filiarem”. 

Samuel Prichard – assim como muitos de nós – foi um escritor maçônico do início dos novos tempos, e talvez, tenha sido um dos primeiros a escrever e publicar os rituais maçônicos em uso, até então, consuetudinariamente, pelas Lojas da Inglaterra, Escócia e adjacências, contrariando a recomendação de que era proibido escrevê-los. À guisa de conclusão, tenho e carrego comigo a compreensão de que as suas “exposures” eram endereçadas à própria Loja, aos Irmãos e à Ordem, sendo execrado exatamente por escrever e publicar essa ritualistica dos Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. Por fim, o nosso título “À Deus, a Maçonaria”, adveio por inspiração e serve para asseverar que, seguindo as Constituições de Anderson (1723), Samuel Prichard – Aprendiz ou Companheiro da Loja “Cabeça do Rei Henrique VIII” – remontou seus escritos aos primórdios, de antes do dilúvio, como fizera Anderson em 1723. E para a Glória de Deus, a Maçonaria existe. 

Fechando, fica a recomendação de que a Maçonaria deve primar por aumentar o CONHECIMENTO dos Irmãos, a fim de que todos, indistintamente, cresçam em SABEDORIA, meta maior de toda e qualquer loja, como bem asseriu o nosso Irmão Élio Figueiredo – Oriente de São Paulo – no artigo “O Maçom, o Estudo e a Sabedoria”, publicado na Revista ATrolha no 405:13. A leitura desse seu artigo se irradiou e impulsionou à gênese deste, por entender que uma das muitas maneiras de reverberar a luz é lendo, pesquisando e escrevendo. 

Muita Paz.

*Luiz Gonzaga Rocha – 33, Membro Efetivo e Fundador da ARLS Antônio Francisco Lisboa no 3793, fundada em 21 de junho de 1985. Brasília – Distrito Federal.

Marcadores: #SamuelPrichard. #Maçonaria. Maçonaria Dissecada. #História #Brasília #Brasil Postagem: www.unidosporbrasilia.com.br/Aprendiz 10/08/2020. Fonte das Imagens: samuel-prichard-wikipédia org/ maconaria-dissecada-wikipédia 

*Esquim de Florian, foi um ex-templário que denunciou seus companheiros ao rei Felipe IV, o Belo, contando- lhe lastimáveis histórias e blasfêmias. 

Indicações de Leitura:

Maçonaria Dissecada, tradução de Xico Trolha, publicação da Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2002.

www.facebook.com

A DEUS, A MAÇONARIA

Post navigation