Por Luiz Gonzaga Rocha
Resumo:
A provocação cultural é um artefato explosivo de altíssima condensação no quadro das referências literárias. As séries oscilantes de complementariedades nos níveis de percepção interpessoal promovem a sua própria realização, retroalimentando processos de cognição e de afetividade cultural, impondo, no caso específico deste artigo, novos rumos ao entendimento sobre erudição maçônica, livros, leitura, literatura e reflexões filosóficas. Afinal, é de contexto em contexto que o processo cultural maçônico se estabelece. Este artigo tem esse propósito: estabelecer marcos culturais. Defendemos, neste artigo, a tese de que todos os maçons são, potencialmente, leitores, e que a Maçonaria seja (ou possa vir a ser) uma Grande Associação de Leitores.
Palavras-Chave: Leitura. Novos tempos. Maçons Eruditos. Estudos Maçônicos.
Preâmbulo:
No dia 13 de setembro deste ano da Graça de 2021 fui surpreendido com um diálogo que me impressionou bastante. O Irmão Valdir das Acácias, em conversa informal, de modo abrupto, o disse: “Gonzaga, você precisa parar de escrever para Mestres e passar a escrever para os Aprendizes e Companheiros”. E ainda completou: “Os Mestres não compram livros e quando o fazem é para doar para os Aprendizes”.
Confesso que demorei alguns dias para “digerir” aquelas palavras. Afinal, me convenci que o Irmão Valdir pode e não pode ter razão. Explico essa aparente falta de nexo: o Irmão Valdir pode ter razão em assentir que os Mestres que (ele) conhece não compram livros, isto é não lêem, portanto, eu não deveria escrever para contemplar os “Mestres Maçons”, mas, os “Aprendizes” e “Companheiros”. O Irmão Valdir pode não ter razão em considerando que os “Mestres” fora do seu círculo de conhecimento podem comprar livros, lê ou simplesmente usá-los como ornamento em suas estantes domésticas, ou para ilustrar-se quando julgar oportuno a leitura. Importante dizer que as duas situações me agradam e me servem de incentivo, afinal, penso que não escrevo para os “Mestres”, “Companheiros” ou “Aprendizes”, mas que escrevo para os “Maçons”, na premissa de que os Aprendizes e Companheiros de hoje serão os Mestres de amanhã, assim como os Mestres de hoje foram os Companheiros e Aprendizes de ontem.
Ademais, carrego comigo a impressão de que a erudição maçônica tenha na leitura a sua principal fonte de alimentação. Ser lido, é o que interessa, e não importa quando, como ou por quem. Deixar o registro descritivo da cultura material dos Maçons, instruir, informar e propagar os saberes das “Coisas” de Maçonaria é a mola que me move em direção à pesquisa e à escrita, que considero como pontos de erudição destinados ao Maçom. Sei que um dos maiores desafio enfrentados pelos escritores não é escrever: é ser lido, e ser compreendido pelo leitor. Ler é atribuir significações e o ato da leitura exige sacrifício por parte do leitor, que tanto pode recriar a leitura como se reinventar, pois na leitura coexistem o constante fluir entre conhecimento e conscientização, favorecendo o crescer e o transformar-se simultaneamente. O trabalho de desenvolvimento intelectual que realizamos em nós mesmos é individual e empírico. Nada deve ser imposto a menos que tenha sido convincentemente aprovado pela experimentação pessoal.
Entendam, a título de exemplo, que um octilhão de tijolos, por si mesmo, não construirão uma muralha em volta do planeta, e nem mesmo uma casinha para o escritor. É necessário, para todo e qualquer tipo de construção, que um agente externo – uma mente orientadora – conduza o processo de utilização dos tijolos, dando-lhes a forma construtiva e utilidade prática. Nessa linha de raciocínio, é preciso escrever, escrever sempre e cada vez mais, pois assim como os tijolos, os livros precisa estarem acessíveis para que a “mente” organizadora defina o que e quando o que fazer com eles. Dessa forma, se não for de todo possível arregimentar um universo de maçons leitores, o ambiente estará preparado para fomentar, no presente para o futuro, os estudos e a leitura, favorecendo a concepção de novos saberes e a erudição maçônica.
Entendam, ainda, a título de exemplo, que se levarmos em consideração que a principal diferença entre o Aprendiz e o Mestre, como no dizer no meu interlocutor, resida apenas na leitura, estou, irremediavelmente perdido, contudo, não podemos crer que o assunto se resuma assim de forma simplista. Compreendam as minhas palavras: eu nunca doaria um livro, a quem quer que seja, se antes o seu conteúdo não me fosse conhecimento, ou se, pelo menos, não soubesse do que se trata em suas páginas. E o senso me diz que outros também não o faria. Aí resume o nosso dilema: O Mestre Maçom que compra livros para doar aos Aprendizes, é um Leitor.
Sozinho para sempre!
Que a escrita seja um ato solitário bem o sei, o que não significa que o escritor se identifique com o status de “Forever Alone”. A escrita depois de produzida, liberta o escritor e o leitor do sentimento de estar e sentir-se isolado. No caso do Mestre (ou Mestres) que recusa a leitura, não enxergo nele nenhuma forma de protesto, entendo tratar-se de opção pessoal que o faz não entender a leitura como fonte de prazer, conhecimento e de sociabilidade, ou simplesmente, que se trate de ausência do hábito da leitura. Particularmente, o que se deve dizer daqueles que se negam a leitura? Que se trata de “opcional e temporário disléxico de leitura!” Talvez. Sozinho para sempre, não! Em algum momento (Ele) poderá despertar da letargia, e consumir-se nas leituras.
A ilustração ou cultura maçônica implica na utilização dos conhecimentos previamente adquiridos, do discernimento, da razão e do sentimento humano, em sua forma mais elevada, mais complexa e mais pura. Dito de outra forma, a ilustração maçônica é o estado de consciência dos elevados valores e dos saberes maçônicos aplicados diligentemente a partir da intelectualidade, capacidade de aplicação dos conhecimentos e do entendimento da validade da propagação desse estado de êxtase. Trata-se, por assim dizer, de processo evolutivo individual. A Ilustração ou cultura maçônica é o subsequente resultado do processo de andragogia, como venho há muito e insistentemente propalando.
A erudição maçônica é um “sentir” baseado na presunção de que todo maçom tem potencial para a auto realização, através da autoeducação. Os livros e a leitura são apenas parte do contributo à erudição. Tomando por empréstimo a organização temática do Irmão Arlei Madeira, é possível afirmar que a organização do conhecimento maçônico (planejado ou alheado) passa sucessivamente por necessárias etapas (por vezes imperceptíveis ao próprio indivíduo), podendo, para fins didáticos, ser articulado em dois segmentos, o primeiro que designamos por Institucional, e o outro, por Organizacional, com seus subsequentes e inconclusivas complementações temáticas. Grosso modo, poderíamos dispor no segmento Institucional: Doutrina, História e Filosofia, ou seja: princípios gerais, doutrina, história e filosofia, escolas do pensamento maçônico, esoterismo, tradição, lendas e mitos; Liturgia e Cerimonial, compreendendo: Ritos, Práticas ritualísticas, Simbolismo, Instrumentos de trabalhos, Templos/Lojas/Oficinas, Cadeia de União, Paramentos e Ornamentos, Painéis dos graus, Fundo musical e Adornos dos maçons; e Comportamento Maçônico, isto é, Postura: Comportamento interno e externo, Atitudes e gestos, Estudos, Leituras, Beneficência maçônica. Segmento esse em que se afigura muito saberes.
No segmento Organizacional, os conteúdos: Estrutura, onde se inserem Obediência e Potências, Grandes Lojas e Grandes Orientes, Supremos Conselhos dos Ritos, Unidades maçônicas: Lojas e Obreiros; Legislação e Direito Maçônico ou conhecimentos inerentes aos Marcos legais maçônicos e civis: Constituições, Estatutos e Regimentos, Reconhecimento e Regularidade, Deveres e Direitos dos maçons e das Lojas); Desenvolvimento dos Trabalhos Maçônicos (Ordens e Denominações dos trabalhos maçônicos, Tipos de sessões, Registro das sessões, Tempo de estudos, Planejamento organizacional e financeiro das Lojas; Administração Maçônica, com estudos relativos aos Poderes constituídos: executivo, legislativo e judiciário; Oficiais de Lojas, Patrimônio, Assistência e previdência maçônica, Eleições, Saudações e Tratamentos protocolares, Recompensas maçônicas; e Aspectos históricos, filosóficos e doutrinários correlatos, contemplando saberes sobre História, Filosofia e Doutrina dos Ritos Maçônicos; Difusão da Maçonaria no mundo, Relações Igreja e Maçonaria, influência da Maçonaria na História dos povos e países.. O que se afigura muitíssimos outros saberes.
Elencamos esses aspectos temáticos (muitos outros poderão ser lembrados e inseridos pelo Leitor) para mostrar que a caminhada do maçom, ainda que coletiva, é individual, e que o maçom precisa construir-se, configurando-se a construção ato solitário, ato em que o maçom estará sozinho consigo mesmo na seleção ou escolha da temática que deverá conhecer. Digo, a guisa de complemento, que para muitos maçons, saber ou deixar de saber o que é e para que serve a Maçonaria (e o que é e para que serve ser Maçom) possa não ser relevante. Neste caso, para estes maçons, seja ele Aprendiz, Companheiro ou Mestre, a escrita (essa e outras), livros e revistas maçônicas não farão o menor sentido. Estes maçons, por opção própria, é de se lamentar, estarão sozinhos para sempre. Mas este não é, em si, um problema: Gurdjieff, sozinho, conseguiu ministrar um choque cultural ao mundo europeu e americano, talvez mais importante do que qualquer outro ocorrido até a onda cultural do princípio da década de sessenta do século passado[1].
Livros, Leitura e Erudição
Há cerca de 200 mil anos, o homem em seu complexo processo evolutivo, alcançou a idade da razão, contudo, os primeiros códices (livros) somente apareceram em data de aproximadamente 1000 anos antes de Cristo, tendo o grande salto evolutivo dos códices ocorridos há pouco mais de 500 anos, com a invenção dos tipos móveis na Coréia e na China, e depois na Europa, com J. Gutemberg, sendo este considerado, ainda que involuntariamente, o responsável pela erudição humana.
Robert Darnton informa (e compartilhamos a informação[2]) que em algum momento, por volta de 4000 a.C., os humanos aprendera a escrever. Os hieróglifos egípcios datam de aproximadamente 3200 a.C. e a escrita alfabética surgiu mais ou menos 1000 a. C. Segundo pesquisadores como Jack Goody, a invenção da escrita foi o avanço tecnológico mais importante da história da humanidade. Ela transformou a relação do ser humano com o passado e abriu caminho para o surgimento do livro como força histórica. A história do livro levou a uma segunda mudança tecnológica quando o códice substituiu o pergaminho, logo após o início da era cristã. O códice por sua vez, foi transformado pela invenção da impressão com os tipos móveis, na década de 1450. Sim, os chineses desenvolveram tipos móveis por volta de 1045 e o coreanos utilizavam caracteres metálicos em vez de blocos de madeira por volta de 1230. A comunicação eletrônica, a quarta grande mudança, aconteceu ontem – ou anteontem – dependendo dos seus parâmetros. A internet, pelo menos como termo, data de 1974, desenvolvida a partir da ARPANET, surgida em 1969. A partir de de 1990, todos conhecem a sucessão de nomes que transformaram a comunicação eletrônica: Gopher, Mosaic, Netscape, Internet, Exporer e Google (fundada em 1998). Disposta desta forma, a velocidade da mudança é de tirar o fôlego: da escrita ao códice foram 4300 anos; do códice aos tipos móveis, 1150 anos; dos tipos móveis à internet 524 anos; da internet aos buscadores, dezessete anos; dos buscadores ao algoritmo de relevância do Google, sete anos; e quem pode imaginar o que está por vir no futuro próximo?
Em nossos dias, lendo e relendo ou mesmo escrevendo, nos convencemos de que os livros não são apenas salvaguardas da cultura da Maçonaria, mas agentes da transformação. Os livros nos ajudam a viver e a compreender a vida. Verdadeiramente, como assevera Harold Bloom[3], “não podemos encarnar a sabedoria. Mas podemos aprender a conhecê-la, a despeito de ser ou não identificável com a Verdade”, ou como diz George Steiner[4]: “os livros são a chave de acesso para nos tornamos melhores. Sua capacidade de provocar essa transcendência suscitou discussões, alegorias e desconstruções sem fim”. Ainda que se possa afirmar, peremptoriamente, que os livros digitais e a tecnologia midiática possam a qualquer momento decretar a morte do livro impresso, não podemos acreditar que isto ocorra a médio prazo. Não podemos crer ou fazer crer que o livro possa acabar, de um momento para outro, sendo substituído pela leitura digital ou por qualquer outra coisa que o valha, e, quando o for, não deixará de ser “leitura”.
No cenário mental que almejamos construir diante dos olhos do leitor, insta assinalar que em razão da erudição ocasionada pela leitura, a única precaução que se há que administrar, é para que aquele que receber migalha ou migalhas dos conhecimentos dispostos nos livros, e ao abrirem-se seus olhos, não passem a se considerar deus (imortal) do conhecimento ou não represente uma ameaça aos Irmãos com assentos ao seu lado (cf. Gênesis 3:22), demonstrando não estarem à altura de merecer o saber adquirido. Dito isto, é válido dizer, também, que o carma do conhecimento é uma constante na vida dos indivíduos iniciados (impossível se livrar dele), ainda que, muitíssimos, vivam na mais completa ignorância e alguns outros se vangloriem dos seus saberes.
Ler os clássicos da Maçonaria, entender o pensamento dos escritores maçônicos, estabelecer parametros entre livros, autores e leituras, é uma ação estupenda, uma maravilha; e quando a conclusão dos estudos e leituras apontarem caminhos próprios e novas conclusões resultantes, abrindo-lhes as portas do próprio entendimento, poder-se-á ser dada por concluída mais uma nova etapa na escalada da erudição maçônica. E ainda que humildemente possa afirmar, aos seus pares, com o fez Sócrates, “não sei nada ou o que sei é que nada sei”, qualquer maçom, independente do grau em que se encontre colado, a leitura de um único livro já é um indicativo de que sabe algo de algo, e nisso reside, com certa moderação e certa propriedade intelectual, o acervo cultural do maçom.
Maçons Eruditos
Engraçado! Sinto-me como se estivesse retornando de uma viagem espacial de muitos anos e nesse retorno me encontro em meio uma multidão de eruditos. Abismado fico a prescrutar. Apercebo-me que uma das principais características desses eruditos se me apresenta como sendo a capacidade de ver, ouvir, compreender e falar a linguagem maçônica natural tanto na forma escrita quanto na forma verbal. E na minha ignorância ouso formular a única pergunta que me ocorre: como puderam alcançar tal nível de harmonização cultural? A resposta por se apresentar uníssona me surpreende: Leitura! Imaginação! Estudos! Apontando-me que o poder fecundo da leitura e da compreensão do que se lê pode transformar o ser nos seus principios, valores e objetivos de vida.
Despertado para essa realidade me apercebo quanto ingênuo sou por não me haver dedicado como deveria a leitura e aos estudos maçônicos nos momentos em que se apresentaram diante das minhas possibilidades e capacidade de entendimento. Hoje, convencido estou de que a versão da realidade de cada maçom, onde me incluo, depende do processo cultural a que foi submetido. A leitura (processo no qual o leitor realiza trabalho ativo de construção do significado do texto) e a imaginação (capacidade mental que permite a representação de objetos, pessoas e coisas) é uma borboleta que parece ter piloto próprio. Por vezes, ao ficarmos lendo, a imaginação solta, sem consulta prévia, nos leva ao passado, ao futuro, ou nos coloca em espaços-tempo nunca antes imaginado, como a enxergar uma flor sendo conduzida pelas águas mansas dos rios depois da chuva amainada, ou a nos sentir transeutando na Inglaterra Medieval de guildas em guildas, ou silentemente sentado às margens purpúreas do Mar Vermelho, em meditação. E os estudos. Ah! Os estudos, conceituado como aplicação da inteligência para compreender o que se desconhece ou de que se tem pouco conhecimento, é a porta estreita que nos induz ao conhecimento.
Ingressando em outro viés, malgrado o analfabetismo dos primeiros tempos da maçonaria operativa, não ousaria dizer, embora me sinta inclinado a isso, que os maçons do passado eram mais eruditos do que os maçons do presente, ainda que soubessem construir e que o que construíram possa ser visitado ainda hoje, poucos sabiam ler e escrever. Penso que os maçons que mediaram a fase operativa para a fase especulativa, ao que tudo indica, foram eruditos, pois souberam ou por ouvir dizer ou por outra formas de se entender, compartilhar conosco os antigos mistérios da humanidade (Persas, Hindus, Egípcios, Gregos, Judaicos e Romanos), arte e cultura, foram, portanto, maçons bem mais eruditos. Eruditos mesmo, em meu humilde entendimento, foram os maçons dos primeiros tempos da maçonaria especulativa, dando-nos os estudos teóricos, baseados predominantemente no raciocínio abstrato. Eruditos também foram muitos dos maçons que no Brasil construíram os alicerces culturais da maçonaria, e as figuras de José Bonifácio, Rui Barbosa, Arruda Câmara, Manoel Arão, nos servem de arrimo nesta assertiva.

José Bonifácio de Andrada e Silva, um naturalista, mineralogista, estadista e poeta luso-brasileiro, conhecido pelo epíteto de Patriarca da Independência por seu papel decisivo na Independência do Brasil, ao lado de Manuel de Arruda Câmara, um naturalista, cientista (botânico), médico e religioso brasileiro, notabilizado como um dos grandes naturalistas do fim do século XVIII e fundador da primeira loja maçônica no Brasil, deram seu contributo aos estudos mineralógicos e botânicos ao mundo. E, ainda, Rui Barbosa, um polímata brasileiro, tendo se destacado principalmente como jurista, advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador, ao lado de Manuel Arão, um escritor pernambucano, pertencente à estética naturalista brasileira, espiritualista, e autor do primeiro livro sobre a História da Maçonaria no Brasil (e por mim indicado para patronear a Cadeira nº 13, na Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras – recém criada), são as personalidades brasileiras que orgulhosamente apresento aos meus possíveis e limitados leitores como maçons eruditos, cujos feitos, nos enchem de orgulho. E em seus nomes condensamos todos os demais maçons eruditos brasileiros.
Tempos Inacreditáveis
Claro que somos homens (diferentes, um pouco, por conta da nossa condição de maçons) e como homens estamos propensos a erros e acertos, embora nunca seja demais tentar acertar sempre em tudo e todas as coisas e ações que estejamos a executar. Não quero errar, mas, leitura, livros, cultura, estudos, educação e ilustração maçônica nestes tempos inacreditáveis, me parece ser o desafio a ser perseguido e vencido pelos maçons. O conhecer antecede o saber; o saber antecede à erudição; e sendo a erudição o galardão compensatório; o rótulo de “sábio” é o coroamento da glorificação da erudição. Vale afixar aqui as palavras de Einstein: “O homem erudito é um descobridor de fatos que já existem- mas o homem sábio é um criador de valores que não existem e que ele faz existir[5]”.
Irmãos! A força dos livros e da leitura, aliadas ao desejo de conhecer, é uma alavanca das mais significativas aos homens de letras. Dois exemplos: Eric Arthur Blair, mais conhecido por George Orwell (falecido em 21 de janeiro de 1950), tornou-se mundialmente conhecido com a publicação do livro “Nineteen Eighty-Four” (Mil novecentos e oitenta e quatro), romance distópico, publicado em 8 de junho de 1949. Quarenta anos depois (1989), o livro “1984” já havia sido traduzido para mais de 65 idiomas e em 2005, a revista Time listou o romance como uma das cem melhores obras de língua inglesa publicadas desde 1923. No mesmo segmento literário, os livros Admirável Mundo Novo de Aldoux Huxley e Fahrenheil 451 de Ray Bradbury, alcançaram os selos de “Bestseller” (mais vendidos), por conta dos interesses dos leitores em buscarem conhecer o imáginário oposto à utopia.
Vivemos nós, os maçons deste início de século, tempos distópicos relativos à leitura? Me parece que não, embora não saiba eu de nenhuma obra literária maçônica que tenha obtido o selo de best-seller (e não vale perguntar ou apontar-me os livros de Dan Brown. Por favor!). Assim, para que se apresente bem centralizada a força da leitura, me parece extremamente atualizada e muito oportuna apresentar outra afirmativa de Einstein: “A imaginação é mais importante que o conhecimento[6]”.
Conclusão
Não se retocam buracos no asfalto com areia lavada. Como não se retocam buracos no asfalto com areia lavada, não nos parece justo alimentar ideias contrárias à leitura. O aprendizado e as suas dificuldades carecem da emoção da leitura nos livros e revistas maçônicas. Tente perguntar aos Irmãos que você conhece como eles aprendem coisas novas. Pergunte o que ele sente quando aprende algo novo. Depois, reflita nas suas respostas.
Não nos parece justo equiparar os maçons à condição de não-leitores, sem que antes possamos nos atentar detalhadamente para o seu perfil sociológico, pois perfis de maçom arrojado, teatrais, festivos, excessivo e atencioso; meticuloso, afetivo, dócil e eremita; e de maçons flexíveis, estão a indicar alta, baixa e média curiosidade ou interesse na busca pelo “novo” que a leitura possa proporcionar. Este é um campo novo para pesquisas sobre os interesses literários dos maçons. O problema da identificação dos portadores desses perfis reside, basicamente, no cargo ou função exercido no contexto da própria Loja e da Maçonaria. A todos, nos parece viável, o incentivo à leitura, aos estudos e às pesquisas maçônicas.
Não nos parece justo, igualmente, pretender equiparar o grau de cultura (saber) e de interesse dos Irmãos por leitura em relação ao nosso próprio conhecer ou em relação aos conheceres de um erudito maçônico escolhido para equiparação. Os Irmãos, mesmo estando colados num mesmo patamar de estudos, apresentam níveis de conhecimentos diferentes entre uma temática maçônica e outra. Desníveis culturais se verificam, igualmente, na esfera social, econômica, e política dos Irmãos, e também nas preferências por leituras e livros.
Resumidamente, podemos asseverar que em qualquer uma das três situações, é importante observar o interesse do Irmão por livros, pois este é um indicativo de ser Maçom-Leitor. Afinal, defendemos, neste artigo, a tese de que todos os maços sejam potencialmente leitores, e que a Maçonaria seja (ou possa vir a ser) uma Grande Associação de Leitores. E uma última assertiva: fora da leitura não há outros caminhos para se atingir facilmente a erudição maçônica.
Bibliografia
BLOOM, Harold. Onde encontrar a Sabedoria, Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
CLARET, Martin (Org.). O Pensamento Vivo de Einstein, São Paulo: Martin Claret, 1988.
DARNTON, Robert. A questão dos livros, São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização, São Paulo: Penguin Classics/Companhia das Letras, 2011.
MADEIRA, Arlei Arnaldo, Ciência Maçônica, em Cultura e Educação Maçônica, tese apresentada ao III Congresso Internacional de História e Geografia da Maçonaria, 1986.
MARQUES, Mario Osório. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa, Ijuí, 2003.
STEINER, Georg. Aqueles que queimam livros, Belo Horizonte: Âyuné, 2017.
[1] SPEETH, Kathleen Riordan, O Trabalho de Gurdjieff, São Paulo: Cultrix, 1976, p.1.
[2] DARNTON, Robert. 2010, p.39-41.
[3] BLOOM, Harold. 2005, p.319.
[4] STEINER, Georg. 2017, p. 17.
[5] O pensamento vivo de Einstein, p.22
[6] A frase originalmente apareceu no livro “Sobre Religião e Outras Opiniões e Aforismos, publicado em 1931. Consta em diversas outras obras sobre Einstein, particularmente, do liveo: O Pensamento Vivo de Einstein, São Paulo: Martin Claret, 1988, p. 60. O contexto da frase é interessante: “Eu acredito na intuição e na inspiração. A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro, estimulando o progresso, dando luz à evolução. Ela é, rigorosamente falando, um fator real na pesquisa científica”.
